sábado, 7 de março de 2015

Mujica!


http://www.brasildefato.com.br/node/31479

"...Fórum – No mundo inteiro há uma crise de representatividade de figuras e partidos políticos, mas isso não ocorre com a sua figura, que as pessoas querem tão bem. Por que acha que isso acontece?
Mujica – Acho que uma explicação simples é que a república apareceu no mundo para negar o direito divino da monarquia e o direito de sangue da nobreza. A república veio para dizer que, basicamente, todos os homens são iguais. E que, como tal, temos as mesmas possibilidades e os mesmos direitos.
Porém, dentro da república, se repetem algumas ações que são de outra época. Então, a presidência tende a se assemelhar um pouquinho à monarquia: tem o tapete vermelho, tem uma corte, tem um mecanismo que a cerca. E isso é um incentivo para o presidente e a alta hierarquia do Estado viverem – sem se dar conta – de forma diferente de como vive a maioria daqueles que eles lideram. Desta forma, cria-se uma distância. Começam a viver como a minoria, como a minoria privilegiada. E essa distância, no modo de viver, nos costumes e das relações, o povo as nota, o povo as percebe quase que subjetivamente. Começa o descrédito e o “não acreditar” [nas instituições políticas]. Isso é muito perigoso, porque o homem é um animal utópico. No DNA do homem, está inscrita a necessidade de acreditar em algo.
Por que lhes digo isso? Em todas as cidades, em todas as épocas, em algum momento, os homens inventaram alguma religião para crer – e não há utopia maior que a religião. Isso você vai encontrar em todos as partes do mundo e em todas as épocas. Na sociedade moderna, quando as pessoas começam a ser pressionadas pelo mercado e não creem naqueles que as governam, não querem outra coisa a não ser o refúgio individual, com cada um pensando em si próprio e os demais não importando. E esse é o trunfo do egoísmo: a falta de credibilidade acaba por acentuar o egoísmo das pessoas. Perde-se o mínimo sentido de solidariedade e produz-se esse flagelo que é a sociedade moderna, que possui uma riqueza como nunca antes, e mesmo assim, ainda não tem nada para compartilhar.
Creio que privilegiamos demais a ideia de que a troca material determina a mudança do homem e não temos dado o papel devido à cultura e aos costumes nessa batalha. Até podemos ter um pensamento socialista ou socializante, porém, seguimos tendo uma cultura de conduta capitalista, da qual não damos conta. Nesse terreno, a disputa não está estabelecida, então nos movemos em uma sociedade de mercado e aqueles que estão contra isso, estão contra apenas do ponto de vista conceitual, pois suas vidas estão [nesse sistema] como se fosse em uma teia de aranha. Se você tem filhos, mas seus filhos veem que seus amigos ganharam brinquedos novos, isso vai te pressionar."

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